25 de maio – Dia Nacional da Adoção este texto foi escrito por Elielton Coelho, voluntário Sempre Criança e pai por adoção. No dia 25 de maio comemora-se o Dia Nacional da Adoção. Essa é uma data em que há muito a se comemorar, pois cada família que se forma (ou que aumenta) pelas vias da adoção deve ser muito celebrada. Mas também deve ser uma data para refletirmos sobre os vários aspectos envolvidos no universo da adoção no Brasil. Segundo o site de Conselho Nacional de Justiça¹, em abril de 2025 havia no Brasil 5.152 crianças e adolescentes disponíveis para adoção. Por outro lado, havia 33.833 pretendes ativos para adotar. Esses números escancaram uma realidade cruel em relação ao cenário da adoção no Brasil: há muito mais gente apta a adotar do que crianças disponíveis para adoção! Mas porque essa conta não fecha? Ao olharmos os dados do CNJ mais de perto, fica claro que a maioria destes pretendentes deseja uma criança branca ou parda com até 6 anos de idade sem deficiências ou doenças pré-existentes e sem irmãos, enquanto as crianças abrigadas e disponíveis para adoção são majoritariamente maiores que 10 anos e têm pelo menos um irmão. Com isso, crianças que não são adotadas, e vão “envelhecendo” nos abrigos, passam a ter cada vez menos chances de um dia serem adotadas. Várias são as motivações que levam pessoas à fila de adoção, assim como são variadas as razões que fundamentam as escolhas por certos perfis desejados para os filhos. Há, em muitos casos, um desejo de que a criança “se pareça” com os pais, ou a esperança de que crianças mais novas poderão ser educadas de acordo com os princípios e valores da família adotiva, e não trarão os “defeitos” que crianças mais velhas já carregam. Quem perde com isso são os milhares de crianças e adolescentes (em sua maioria negros) que, por diversos motivos – e nunca um bom motivo – foram retirados de suas famílias de origem, e que vivem a desesperança de um dia voltar a ter uma nova família. Segundo as disposições preliminares do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069 de 13/07/1990): “Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.” Ou seja, falhamos todos – família, comunidade, sociedade e poder público – com estas crianças e adolescentes, a quem foi vetado o direito de ter uma família. E porque estou falando tudo isso? Este texto inicia dizendo que o Dia Nacional da Adoção é uma data a ser celebrada, mas também que deveria motivar reflexões.Gostaria, com este texto, de incentivar que toda criança adotada – de qualquer idade – seja muito celebrada, festejada! É sempre lindo e emocionante mesmo!Mas também gostaria de incentivar que todos possamos conhecer mais a fundo este cenário e entender o que nos traz a esta realidade (preconceito? racismo? medo? desconhecimento?), para que, enfim, possamos modificá-la. Como voluntário do Projeto Sempre Criança durante muitos anos, acompanhei diversas histórias lindas de adoção tardia (eu não gosto muito deste termo, mas isso é assunto pra outra hora!): famílias lindas e cheias de amor que se formaram através da adoção de adolescentes, irmãos, irmãs! Tive a sorte de conhecer histórias maravilhosas de adolescentes que, ao vivenciar o amor de uma família, desabrocharam, cresceram, e agora brilham construindo suas próprias – e belas – histórias! E fui pego de surpresa (e presenteado) pelo destino, com uma história que não foi nada planejada: me tornei pai, por adoção, de um menino (lindo, aliás!!), negro, deficiente intelectual, que, à época da adoção, já tinha 12 anos! Ou seja, um exemplo perfeito das crianças que vão “sobrando” nos abrigos. |
![]() |
E como isso aconteceu? Também graças ao Projeto Sempre Criança, pude viver a experiência de conhecer muitas crianças e adolescentes para além da idade, da cor, das deficiências, e de suas histórias pregressas, e com isso descobrir o quanto eram inteligentes, divertidas, cheias de qualidades e com um enorme desejo de serem felizes – como qualquer outra criança!E assim foi com meu filho! Foi só a partir desse contato, graças ao voluntariado, que surgiu a vontade antes impensada de me tornar pai daquele menino apaixonante! |
![]() |
Permitir-se conviver e conhecer as crianças pode mudar completamente as escolhas pré-concebidas, e permitir que outras lindas histórias de adoção possam acontecer. Normalizar as diferentes configurações de família também é fundamental, afinal, qualquer modelo de família pode dar o amor e cuidado que estas crianças e adolescentes desejam e precisam! É fácil aprender, de um dia pro outro, a ser pai (no meu caso, também mãe) de um (pré) adolescente de 12 anos? Não! É desafiador, é trabalhoso, momentos difíceis irão chegar, e você pode até achar que não dá conta! Exatamente como acontece com quem se torna pai / mãe pelas vias naturais. Mas posso garantir uma coisa: o amor que este filho trouxe pra minha vida não faz distinção entre “biológico” e “não biológico”!A adoção, exatamente do jeito que foi, mudou minha vida, e mudou a mim mesmo – para uma versão muito melhor, que eu nem sabia que existia!¹- Conselho Nacional de Justiça (https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/adocao/) |
![]() |
Este texto está disponível no nosso LinkedIn! Caso queira deixar um comentário ou comentar por lá, acesse AQUI. |
Deixe um comentário